Dados do Trabalho

Título

AMAUROSE TRANSITÓRIA PÓS CATETERISMO CARDÍACO

Introdução

A amaurose transitória pós cateterismo cardíaco é uma complicação rara e de etiologia pouco compreendida. Acredita-se que exista um mecanismo de neurotoxicidade associado ao contraste iodado no córtex visual, onde a barreira hemato-encefálica é incompleta. O diagnóstico é clínico, e devem ser avaliadas outras causas de déficit neurológico focal como hipoglicemia e isquemia. Não existe tratamento específico, e a resolução do quadro ocorre de forma espontânea entre dentro de 3 semanas.

Descrição do Caso

Feminino, 65 anos, portadora de DAC crônica com indicação de cirurgia de revascularização do miocárdio, em 6º DPO de correção cirúrgica de fratura de fêmur direito. HAS e DM de longa data, com diagnóstico de doença de Parkinson e hipotireoidismo. Apresentava-se em leito de enfermaria, com terapia medicamentosa otimizada e função renal preservada. Realizou cateterismo cardíaco por via radial direita, sem intercorrências. Evidenciadas lesões em artéria circunflexa de 90% proximal e 90% distal, ramo ventricular posterior com oclusão total distal e ramo descendente posterior com lesão de 95% proximal. Foram infundidos 30ml de contraste Omnipaque.
Uma hora após a realização de cate, paciente evolui com perda visual súbita percebida pela acompanhante. Após avaliação inicial por médico de intercorrência, foi constatada amaurose bilateral, com pupilas reagentes; paciente apresentava ainda alteração do discurso, apresentando ecolalia e redução da interação com o examinador. Sem alterações de sinais vitais e glicemia normal. Realizada TC de crânio sem contraste, sem evidência de alterações agudas. Avaliação da neurocirurgia corroborou com os achados iniciais. A paciente foi então transferida para leito de UTI para vigilância neurológica. Estável nas 24 horas seguintes, durante nova avaliação neurológica, apresentou recuperação total da visão e do status neurológico prévio, lúcida e orientada em tempo e espaço, bem como normalização da interação com o examinador. TC de controle 36 horas pós ictus, sem alteração em relação a primeira. Recebeu alta da UTI 12 horas após a recuperação da visão para seguimento com a cardiologia clínica.

Conclusões

Amaurose transitória pós cate é condição rara e de diagnóstico de exclusão, que acomete pacientes logo após o procedimento, e apresenta resolução espontânea em até 72h. Exame neurológico completo, glicemia capilar e tomografia de crânio sem contraste são mandatórios na abordagem inicial, e devem ser seriados durante o acompanhamento desses pacientes.