Dados do Trabalho
Título
CARDIOMIOPATIA AMILÓIDE ASSOCIADA À MUTAÇÃO NO GENE DA TRANSTIRRETINA: RELATO DE UM CASO E DOS RESULTADOS DE EXTENSO ESTUDO DE TRIAGEM FAMILIAR
Introdução
A cardiomiopatia amiloide associada à transtirretina (TTR) integra o grupo de doenças amiloides raras e sistêmicas que são caracterizadas pela deposição extracelular de proteína amiloide, que resulta em falência progressiva de órgãos. Pode se manifestar como hereditária (por mutação no gene TTR) ou selvagem (adquirida ou senil) e em ambas formas a proteína amiloide pode infiltrar qualquer uma ou todas as estruturas cardiovasculares, incluindo o sistema de condução, o miocárdio atrial e ventricular, tecido valvar, as artérias e coronárias. A mutação Val142Ile no gene TTR tem a insuficiência cardíaca de fração de ejeção preservada (ICFEP) como fenótipo clínico predominante.
Descrição do Caso
Indivíduo do sexo masculino, 77 anos, procedente da cidade de Campo do Brito - SE, com quadro clínico de ICFEP. Antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia, obesidade, acidente vascular encefálico isquêmico, sem grandes sequelas, além de síndrome do túnel do carpo bilateralmente já corrigida. Queixa-se de palpitações, síncopes, precordialgia e dispneia. Ecocardiografia de repouso mostrou padrão de Strain, índice de massa de 135 g/m, pressão sistólica de artéria pulmonar de 52 mmHg e função diastólica restritiva. A ressonância magnética cardíaca revelou hipertrofia septal (parede anterosseptal de 17,6 mm), massa de ventrículo esquerdo de 170 g, isquemia apical e fibrose miocárdica (14% de massa). O Holter constatou arritmias ventriculares e supraventriculares e o teste genético identificou a mutação p.Val142Ile no gene TTR. Iniciou tratamento específico com tafamidis. Outros 11 familiares também foram testados. Desses, apenas 2 foram negativos. 8 foram positivos em heterozigose (uma única mutação) e 2 foram positivos em homozigose (duas mutações).
Conclusões
A extensa recorrência da mutação p.Val142Ile nos familiares estudados sugere a possibilidade de um cluster na região de Campo do Brito - SE, devido ao padrão de herança autossômica dominante cujo risco de transmissão do gene mutado é de 50%. Os familiares foram informados de que, devido à penetrância incompleta da mutação, nem todos desenvolverão o quadro clínico, mas todos devem manter avaliação cardiológica longitudinal. Os casamentos consanguíneos nesta família estão relacionados com o risco de nascimentos de indivíduos com duas mutações (homozigose) para amiloidose, algo extremamente raro, cujo quadro pode ser mais grave e com manifestação mais precoce.
Área
Medicina
Instituições
DNA Laboratório e Genética - Sergipe - Brasil, Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe - Sergipe - Brasil, Rede D'or São Luiz - Sergipe - Brasil
Autores
Pedro Lucas Cardozo Barros, Emerson Santana Santos, Beatriz Carolina de Araújo Pereira, Larissa Rebeca da Silva Tavares, Antônio Guilherme Cunha de Almeida, Ana Beatriz Leite Aragão, William Lucas da Silva Mendes Pina, Antônio Carlos Sobral Sousa, Daniel Pio de Oliveira, Luiz Flávio Galvão Gonçalves, Enaldo Vieira de Melo, Joselina Luzia Menezes Oliveira